terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Foto:Micah Goulart "Holding a Piece of Time"

o tempo do interior!

O tempo é algo fabuloso, a sua existência é um deslizar num gradiente que passa da realidade à fantasia mais pura. É engraçado, estranho, assustador e simultâneamente sufucante a dependência com que ele nos aprisiona. Quando me centro na sua dimensão, é como se através dele toda a vida se tornasse transparente. Foi ele que decidiu da existência da vida, foi ele que marcou o ritmo de toda uma vida, preenchida de vidas, num longo caminhar que nos fez chegar ao que somos. É ele que tem o poder de nos fazer sentir, quando se deve sentir o sentir.
É poderoso e ao mesmo tempo puro, é cruel e ao mesmo tempo humilde, é insano e ao mesmo tempo implacável, um relógio impiedoso perante o sofrimento e a felicidade. É ele que impõe a angústia, é ele que corta friamente o calor do sorrir.
É detestável o tempo, mas é tão doce.
Consegue num momento retorcer a carne em chagas de pranto e dor, noutro tornar o corpo em beleza e esplendor. Olha-se para o tempo e sente-se a vida, olha-se para a vida e procura-se desesperadamente o tempo.
E eu que sou neste mundo? para onde olho? Para a vida ou para o tempo?
Decididamente estou na vida e sinto a brisa suave do tempo. Apetece-me amar no tempo e ser amado por ele, quero a paixão mas não a quero no tempo, quero o amor mas quero-o no tempo! Quero o tempo com vida, quero vida com amor, quero amor forte na paixão, quero paixão louca na fantasia e insana na realidade dominada pelo tempo.
Gostava de rir sem ter razão para o fazer. Apenas rir, rir, rir, rir....
O rir da criança, que ri sem se preocupar em procurar algo que a faça rir. É tão bom rir só por rir.
MENTIRA!
Só há rir porque existe alguém para quem rir. Não se ri sem ser por nada, RI-SE PORQUE HÁ ALGUÉM PARA QUEM RIR! Ainda que irreal, mas tem de haver alguém!
O tempo é impotente!...ahahahahah....ele afinal não é assim tão poderoso, ele não consegue dominar a ausência do outro. Pode obrigar a que não se queira sentir a falta do outro, que se GRITE que não é necessário o outro, mas nunca conseguirá dominar as profundezas de uma alma solitária, encarcerada no negrume do isolamento frio e húmido de um existência oca.
Tempo tu és a constante que nos desloca no Universo, és a chama de um farol que nunca se consegue alcançar. Tratas-nos como grãos de pó insignificantes, mas deixas-nos ter a imaginação do tamanho do Universo.
PARA QUÊ!
Para sentirmos que somos pequenos e ínfimos, que desapareceremos sem que isso se note? Ou será que esta possibilidade de fantasiar serve para não nos apercebermos de quão pequenos somos?
Nunca respondes às interrogações! Porquê? Esperas que o tempo se encarregue das respostas? Não dás o que só tu dás...estúpido!
Quem julgas que és, DEUS!?
É isso que julgas?...pois enganas-te, porque os Deuses não te conhecem, não precisam de ti, não caminham na linha ténue e forte da tua existência, não estão presos aos trilhos por ti traçados. São livres de ti, tempo! São livres...
O amor. É, o amor......também é teu súbdito?
Desobedece-te, não é verdade, ao contrário da paixão, que controlas, até no mais ténue dos teus espaços. O amor é diferente, é intemporal - como detestas esta palavra - ele consegue ir muito para além do teu espaço, é eterno, é um Deus.
Eu gosto do amor, como gosto de ti. Não é estranho? Eu amo, mas amo muito e gosto de amar, gosto de amar quem amo.
Gosto do tempo!
Gosto de ti, porque sem ti, teria a vida eterna de amor e nunca saberia saborear e sentir algo, para o qual um dia vou adormecer eternamente. A tua finalidade enriquece o amor, enriquece muito o meu amor. Sem ti cada pedaço de amor que sinto nunca seria forte e único como o é. Mas nesta finalidade de grão de pó cósmico tenho medo, não da finalidade, mas de que o amor termine antes dessa finalidade.
Amo uma mulher!
Sinto que este amor é o que me dá sentido até chegar ao compasso por ti predestinado, mas não lhe sei dar este sentimento. Sou mudo no que aos outros é palavra imediata, apago a luz quando ela precisa de ver o meu interior, sou incompetente a desnudar a realidade do mundo que construo. Não sei acender o pavio da vela que faz o meu coração brilhar. Não sei acalmar pela intenção, só sei oferecer o que me é real. Como a paixão e o amor que sinto, só os sei dar porque são reais, e quero-os dar, preciso de os dar! Não consigo oferecer a riqueza do se, apenas dar a pobreza do é, mas até isto não sei mostrar! Sinto que és tu tempo, quem tem a obrigação de o fazer, mas por vezes levas tanto tempo, tanto.....mas tanto tempo...que só eu sei viver esse tempo na sombra do silêncio. Esse tempo é só meu, tão meu, que a todos os outros é impensável e invisível, para eles este teu espaço não existe e com ele também o meu se, não existe.
Só sei amar o que toco, sou primário, arcaico no que amo, não sei amar no abstracto, não sei dar no abstracto, só sei amar e dar o que ocupa espaço num mundo que acredito ser real. Claro que sei imaginar, construir no sonho, idealizar na fantasia, oh! Se sei!........ Mas não sou capaz de dar esse mundo, porque o acho tão meu que os outros não o entenderiam, não o valorizariam, não o quereriam sentir. Serei cego em achar que só eu sei ver e entender o meu mundo de imaginação e fantasia? Serei paralítico em não conseguir estender uma mão cheia de sonhos que se querem partilhados, serei mudo em não conseguir tornar palavra a vontade de sossegar a lágrima do sofrimento de quem amo? Irei definhar no sufoco das minhas lágrimas, que só choram para dentro? Serei feliz na realidade de quem amo, ou será mais um sonho que só em mim nasceu, vive e vai morrer?
Só mesmo tu tempo, me acompanhas, me abraças no interior, me deslizas a tua mão dócil pelos meus cabelos, de quem tudo entende tolera e acredita. É bom sentir que te tenho. Mas perdoa-me, não me chega, não é suficiente. Tu não existes, para que te possa tocar! E eu preciso de tocar, para que o sentimento tenha pedestal, onde se possa exibir recatadamente em todo o seu esplendor, em todo a seu brilho. Para que, quem amo o sinta e queira tomar como seu, num mundo em que o sentido esteja na fusão da paixão e do amor intemporal, na finalidade a que nos condenas. Preciso de sentir que quem amo me ama, e quer também este mundo que é o meu. Que quer que o seu mundo seja também meu. Que quer construir um outro mundo com estes dois. Mas não quero que sejas tu tempo, a responder...é que levas tanto tempo, que me fazes desperdiçar cada momento teu, de amor e paixão na construção da felicidade...não quero...



5 Comentários:

Blogger Miudaaa disse...

Já perguntei ao tempo de onde ele vinha, qual tinha sido o seu começo...
Já perguntei ao tempo qual a medida
de seu passo imenso... que numero de sapato, bota ou chinelo, calçava.
Já perguntei ao tempo que ar ele respira no seu amplo peito...
Já perguntei ao tempo qual o mistério de que ele é feito...
E, no arfar do silêncio,
vi apenas a minha alma dentro do tempo...

A mesma alma que HOJE ficou sem respirar, arrepiada, dominada, rendida às palavras e sentires de quem sente que o tempo é vida dentro do próprio tempo dos sentires imensos...

P A R A B É N S !!!

1 beijo de miudaaa, com nózito na garganta :)

24 de janeiro de 2007 às 10:54  
Blogger Miudaaa disse...

ler-te, trouxe-me á memória...José Régio.

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!"

Nota: o sonoro, não me deixa sair daqui... :)

24 de janeiro de 2007 às 10:58  
Anonymous Anónimo disse...

Amor bem "conseguido", tempo quase de Amar, Amor escondido mas sem amarras vivido só no Tempo perdido, constrói para ser construíd, grita no teu sorriso e suplica para ficar...

P.S. adoro, esse estado inebriante que nos faz a todos Bipolares.

Un bacio

25 de janeiro de 2007 às 00:48  
Anonymous Anónimo disse...

O tempo define e redefine...empurra e faz cair, levanta e faz sorrir..faz sobretudo sentir...sentir..é no tempo e com tempo q sentimos e sonhamos...q nos desiludimos e amamos...q choramos e esperamos....q nos sentamos e nos desenhamos...e é no tempo q existimos, q nos definimos...é no tempo q não somos tempo....é no amar q voamos e destruimos o tempo na tentativa de tornar o amor intemporal...sem tempo q o defina ou o destrua...é no amar sem tempo q reside todo o tempo em q realmente existimos e somos.

tudo isto para dizer que o teu tempo e o teu amar fazem pensar:)...

beijos muitos d'
a vida acordada

31 de janeiro de 2007 às 01:47  
Anonymous Anónimo disse...

Não vou falar do tempo, já disseste tudo.
Fizeste-me ter vontade de te amar e de ser amada por ti precisamente da forma que descreves que amas...
Quem sabe...Nesse tempo que nesse tempo que tanto falas nos encontraremos e...

Beijos

25 de fevereiro de 2007 às 16:54  

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